Complexo industrial-militar e tecnologia
A inflexão da pesquisa científico-militar estadunidense como gestante da inovação tecnológica após os chamados anos dourados
Om bogen
O complexo industrial-militar (CIM) é um arranjo produtivo que surge da necessidade da própria acumulação de capitais, e que possui potencial para cumprir funções econômicas da mais absoluta importância, tais como: freio à queda das taxas de lucro; imposição bélica para o controle e expansão de mercados e impulso ao avanço tecnológico. Sendo o direito um fenômeno que responde aos imperativos da reprodução da vida material, esse terá uma potência muito limitada para alterar a dinâmica destas determinações. Dentre elas, o impulso ao avanço tecnológico receberá uma atenção especial neste estudo, que tem por objetivo determinar como se deu a inflexão na pesquisa científico-militar nos EUA após os chamados anos dourados. Utilizando-se da análise de dados, apontou-se a funcionalidade que o CIM teve nas décadas de 1950 e 60, quando serviu de freio para a queda da taxa de lucro e de berçário para inovações, tais como a manipulação da fissão nuclear e o avanço da ciência da computação, para, em seguida, poder indicar aquilo que mudou na atuação dessas determinações após 1970. Os grandes investimentos em pesquisa científico-militar, característicos dos anos 1960, declinaram acentuadamente e pairaram em torno de 50% do total de investimentos federais em P&D até o início dos anos 1980, quando voltou a aumentar rapidamente, entrando em lento declínio no final desta década e permanecendo relativamente estável até os dias atuais. Em 1964, os gastos federais em P&D atingiam a marca de 1,86% do PIB norte-americano, enquanto os investimentos privados nesta área representavam 0,86%. Seguindo uma tendência que já vinha se manifestando ao longo da década de 1970, os anos 1980 definiram uma virada, e os investimentos privados ultrapassaram os gastos do governo em P&D. Ocorre que o protagonismo da pesquisa científico-militar nos anos dourados enviesou o avanço tecnológico para as demandas militares, que requeriam alta performance. Este padrão técnico deixou os produtos norte-americanos mais caros e menos competitivos frente aos japoneses. Como reação, superou-se o triângulo dourado do complexo industrial-militar-acadêmico dos anos dourados e criou-se uma estrutura institucional por parte da P&D norte-americana no sentido de oferecer um maior incentivo para os pequenos empreendedores desenvolverem novas tecnologias. Isso acabou influenciando o surgimento das pequenas empresas e redesenhou também a configuração administrativa das grandes corporações, que diminuíram significativamente o número de pesquisadores empregados. O ponto nevrálgico de todas estas mudanças é que elas surgem da necessidade de dar resposta à queda da taxa de lucro, a qual os gastos militares já não tinham potência para oferecer, reduzindo a sua influência sobre a economia e, por sinergia, sobre o desenvolvimento científico. De todo modo, os fundos militares continuam financiando metade dos gastos federais em P&D, e sendo muito importantes para os estágios iniciais da pesquisa nos EUA. O fato é que todo avanço técnico radicalmente novo ou é gestado pelo próprio militarismo ou é imediatamente empregado em fins militares no capitalismo. Na mesma medida em que se desenvolvem as forças produtivas em uma mão, opera-se o avanço da destrutividade e da barbárie em outra.