Ciência e ficção em Freud fornece uma contribuição decisiva não apenas para a discussão sobre o estatuto científico da psicanálise. Ele nos mostra quanto a consolidação do discurso científico deve ao uso sistemático da ficção, da escritura e de procedimento que, à primeira vista, poderiam parecer mais próprios à interpretação de obras literárias. Nessa original reflexão a respeito do estatuto da práxis analítica, Alfandary nos leva à reconstrução sucessiva dos modelos epistemológicos que moldaram a psicanálise, sempre expondo como eles foram acompanhados pela modificação e pela multiplicação dos gêneros de escritura. Dessa forma, constitui-se uma articulação cerrada entre filosofia, clínica, teoria das ciências e sensibilidade literária capaz de mostrar como a ficção não é o avesso da cientificidade, mas um regime de formalização constituinte da realidade humana e das modalidades de intervenção em seu seio.