Realmente, Benjamin Button é um caso estranho. Ele é um bebé, mas um bebé que fuma charutos, anda de bengala e detesta leite quente. Porquê? Porque anda com o relógio às avessas: nasceu com 70 anos e, aparentemente ao contrário de toda a humanidade, fica cada dia mais novo. Esta é uma história sobejamente conhecida devido à sua adaptação para o cinema pelo realizador David Fincher e protagonizada por Brad Pitt e Cate Blanchett, mas é também uma das mais fascinantes ficções curtas de um dos maiores escritores america - nos do século xx, F. Scott Fitzgerald, que, mais uma vez, nos retrata com mestria os anos e as convenções sociais do início do século passado, do qual foi um acérrimo retratista e crítico. O Estranho Caso de Benjamin Button, texto impregnado de um absurdo kafkiano, relança as questões, ainda hoje actuais, da juventude e da velhice, das convenções e das máscaras sociais, num conto em que, pegando nas palavras de Edith Wharton, «é isso que acontece, não se fica melhor, mas diferente e mais antigo e isso é sempre prazeroso», mesmo que em sentido reverso. Ou de como a vida vivida de trás para a frente pode ser um admirável exercício de imaginação literária.