A ideia para este quarto volume da coleção Pensamento Feminista surge, nas palavras da organizadora Heloisa Buarque de Holanda, durante a pesquisa realizada para o livro Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Naquele momento, se tornava claro que a trajetória das experiências, desejos, classificações e conceitualizações sobre o corpo, e mais especificamente sobre a sexualidade, marcavam (ou permitiam) os saltos epistemológicos da história dos estudos de gênero.
Na década de 1990, Teresa de Lauretis transforma o termo queer (em inglês, com carga fortemente depreciativa e vulgar) em conceito, e utiliza o termo "teoria queer" para um seminário onde seria discutida a situação dos estudos gays e lésbicos, naquela ocasião, em crise nas universidades norte-americanas. Com a intenção de pautar e colocar em debate formas de dissidências sexuais em cruzamento com outros marcadores culturais, sexuais e raciais, subverteu-se o conservadorismo das teorias sobre sexualidades gay em curso.
Essa proposta, potencialmente transformadora, termina, infelizmente, diluindo-se nas práticas teóricas dos Estados Unidos e da Europa. Ao mesmo tempo, o exame mais cuidadoso dos feminismos no sul global demonstra que as teorias queer na América Latina não eram tão novidade como no feminismo dito central.
Assim, o tema deste livro é justamente estas estratégias, reações e modulações do que chegou até nós como um avanço teórico – o conceito queer –, e de como ele se materializou local e globalmente, produzindo políticas sexuais inovadoras, contestadoras e plurais.