Fora dos pobres não há salvação
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A obra de Jon Sobrino encaixa- se perfeitamente na coleção, que pretende reunir uma série de respostas à questão crucial: "Qual é a verdadeira função da Igreja nas atuais situações de pluralismo de ofertas religiosas? Quais atitudes esperam-se dos cristãos em tais contextos?"
A resposta de Sobrino, que perpassa os diferentes textos aqui reunidos e dá unidade ao conjunto, é de que a Igreja encontrará somente nos pobres o caminho da salvação. Por pobres se entendem os povos crucificados, que devem ser considerados na história e em nossa realidade atual, o verdadeiro servo de Javé, pelo seu sofrimento e pela sua possibilidade de salvação. A humanidade se desumaniza na civilização da riqueza, marcada pela hiper-valorização das coisas temporais, que degrada o ser humano. A salvação da humanidade está em contrapor-lhe uma civilização da pobreza, suscitar e sustentar o povo que há de triunfar dos ricos e dos poderosos.
Sobrino explica o que a Igreja deve fazer em favor dos pobres e o que os pobres podem fazer em favor da Igreja - e, mais radicalmente, da sociedade. Os pobres realizam a missão da Igreja, que é salvar da morte, da indignidade, da não-existência e reverter o rumo da história, acabar com a civilização da riqueza (injustiça, crueldade e morte = desumanização) e caminhar para a civilização da pobreza - uma nova lógica para entender a salvação. Fora dos pobres, portanto, não há salvação.
Aos três textos fundamentais que desenvolvem essas teses, acrescentam-se três outros consagrados à centralidade do Reino, à ressurreição dos mortos e ao papel decisivo que desempenham na Igreja as testemunhas vivas da fé, como o são, para a América Latina, Monsenhor Romero e Inácio Ellacuría.
A obra é sobremaneira atual, dada a discussão sobre o sentido da esperança que salva, tema da Encíclica de Bento XVI sobre a Esperança, de 30 de novembro de 2007, em que se observa uma forma diversa de entender a ação da Igreja na civilização da riqueza em que vivemos.