Os rostos são pálidos e sem expressão. Os olhos, vidrados e sem profundidade. Os corpos se movimentam como se fossem autômatos. Eles vagueiam pelas ruas, pátios de fábricas, escritórios e muitos outros lugares em busca de algo que pode satisfazer sua fome. Ao ler esse relato, seria natural pensar nos zumbis que povoam os cenários de filmes como o clássico A noite dos mortos-vivos, da série The Walking Dead ou do vídeo da música Thriller, de Michael Jackson — aquelas criaturas macabras, em estado de putrefação, que partem de suas tumbas em busca de carne humana para alimentar sua (não) existência.
Mas a descrição também cabe na dimensão da labuta repetitiva do operário, na ronda dos grupos adolescentes consumistas dentro do shopping, no semblante da executiva durante a reunião de uma multinacional diante da pressão por resultados, na trilha errática de um sem-teto em busca de abrigo. E é sobre esse tipo de vida-meio-morte, desprovida dos humores e fluidos que a aproximam do que há de mais fundamental em sua humanidade, que os autores reunidos nesta obra propõem reflexão. A partir de um olhar ora político, ora histórico, ora psicanalítico, ora artístico, mas sempre contextualizado sobre o simbólico dos corpos sem alma, os textos reunidos por Rodrigo Gonsalves e Diego Penha em Ensaios sobre mortos-vivos, elaborados por um seleto grupo de pensadores da contemporaneidade, decompõem o conceito de decomposição para revelar o que há de comportamento zumbi nas relações humanas (ou desumanas) e nos alertar: cuidado, pois eles estão em todo lugar!